sexta-feira, 13 de março de 2009

Descortinando

Volta-se a estaca zero. Dos sonhos perdidos, sequer as saudades. No presente o que apetece é este desconhecido momento que pulsa e não cessa. As ondas do vento embaraçam os cabelos; os passos tidos como certos dão nós e descansam latejantes. O cheiro anuncia que há de ter qualquer novidade diante dos meus olhos, que por hora desconheço. Quem se importa? Sigo em frente, avante, sem direção e sem nostalgia. Desdobro o que sinto, engomo o que tenho sido e guardo na memória apenas o que é relevante. Na seleção do que penso, me pego envolvida em um pensamento confuso, perco a oportunidade de apreciar a riqueza do agora. Abro mão distraída do momento presente, do perfume presente, das pessoas presentes para navegar em águas turvas. Bem mais sábias na sua materialidade ontológica, as cortinas dançam na sinfonia orgânica da chuva, tontas e desbaratinadas. Jogam-se no momento e não param pra pensar: será que ou será que não ? Sento, respiro e observo o rio que corre em mim, não sei em qual água navego, não sei a profundidade, tudo que sei é que o futuro não me pertence e que não existe nenhum porto seguro às margens do meu cais.