segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Caudaloso

Você me traz a memória de um sonho bom, dos quais me recordo sorrindo e fechando os olhos. A cheia luz da lua clareia todo meu desejo de estar em ti, debruçada, acalentada e resumida. Paro e penso como poderia sido, como tem sido e como será. Sonho com teus olhos e perco o presente do meu olhar. Agora. Agora, grita minha consciência! Visão clara: vã espera, mente vaga. Aqui, no meu quarto, quatro paredes e duas vidas. Uma mesa, uma cama, muita memória. Ateei fogo nas cartas para ter certeza que o passado não compensa. Ficou tudo cinza. Tudo retornou ao pó. E o que é a areia senão o pó para erigirmos a solidez de nossas casas vagas? Tudo cinza, tudo em pó, te esperando pra firmar a areia no meu coração deserto. Tenho medo, recorro aos astros, as prosas, aos versos. Tanta água, tanta areia, tanta sede. A vida passa caudalosamente, mas a gente sempre se afunda nas mesmas dúvidas. Meu amor, todo meu, e isso de não dividi-lo ainda me dará gastrite.