quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Azul

Em um dia azul
Qualquer coisa brilha
E é o sol
Que manda-chuva
Para o raio
Que o parta

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Dez horas a mais

Antes de tudo, nada certo. Me arrumo, organizo minha vida e meus sapatos, levanto o pé do chão - sem deslanchar o vôo - e sigo em frente. Deixo cá dentro as saudades, os momentos vividos, as horas corridas; sem mágoas. Vou curtindo o caminho, sem pressa, porque ainda tenho o verão inteiro pela frente. Dez horas a mais de vida no relógio dos meus dias baianos, surpresas incertas, diversão garantida. Viajar é viver, definitivamente.

sábado, 17 de outubro de 2009

Incenso

O perfume que exala de ti flui como incenso, leve, perambulando no ar das minhas dúvidas. Enovela meu olfato, entrelaça os aromas das minhas idéias. Dança em um ritmo não orquestrado, confuso, caótico. Teu olhar perturba-me os sentidos e as pernas, invade sorrateiramente meus lábios e emudece minha voz. Sei do seu percurso, não questiono, nem argumento, preparo pra mim mesma um palco dotado de silêncio, fecho a porta e está tudo bem cá dentro.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nós vivemos na ilusão
e na aparência das coisas.
Existe uma realidade.
Nós somos esta realidade.
Quando você compreender isto,
verá que você não é nada.
E não sendo nada,
você é tudo.
É só isso


- Kalu Rinpoche

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sinfonia do Nada

Não precisa ter hora pra começar
Porque o começo nada mais é que um antigo-pulsar
Que se prolonga sempre em meio ao presente
Fruto da árvore de outrora.

O começo não vem com o parto,
Nem com a partida;
Vem antes de qualquer discurso,
De qualquer palavra,
Despedida.

O não-dito vem antes da sinfonia,
De qualquer zunido tardio;
Somos um com o todo,
Com o nada.

Abraçada ao infinito, de portas abertas
Ao desconhecido,
Sou bem maior que o pensamento.

Fecham-se as cortinas,
Mas o espetáculo não se encerra
Porque não tem fim este delírio interstício do ser e do nada,
Porque o que orquestra em mim e em ti é a velha sinfonia do nada.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sinfonia do Nada

O começo não vem com o parto,
Nem com a partida;
Vem antes de qualquer discurso,
De qualquer palavra,
Despedida.

domingo, 9 de agosto de 2009

Chove mas não molha

Tivessem parado as gotas da chuva,
Os raios,
As poças.

Tivessem parado as nuvens,
Os trovões,
E dos relâmpagos as tochas.

Tivessem parado, não estaria eu aqui a falar:
Nem das gotas,
Nem dos raios,
Nem das poças,
Nem das nuvens,
Nem das tochas.

Tivessem parado, estaria a contemplar qualquer raio que não chuva.
Qualquer poça que não nuvem
Qualquer trovão que não tocha.

Pois da manhã em que se faz sol e não água
Não há porque deleitar-se ao guarda-chuva.
Não há porque trovejar de saudades, coração!
Porque o cair de cada gota é um amor de vida.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Darregueotipia de idéias

Lanço o preto no branco
E o que era silêncio
Vira bulício.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Brincadeira de roda

Deu a entender que era tudo verdade. Os braços redentores anunciavam contato íntimo e prosa inexaurível. Os olhos me encaravam com uma autoridade tamanha, com uma veracidade tão límpida, que eu me envergonhava da dúvida que surgia no meu âmago. Por um segundo acreditei nas palavras, no olhar perverso, nas carícias estonteantes. Num segundo dentro dele, esqueci que estava por fora de mim mesma. Hoje eu chamo este momento de entrega efêmera de: distração. O que mais poderia ser, afinal ? Se disser amor é porque perdi totalmente a noção, se eu chamar de paixão, é uma hipérbole larga demais pra tão pouca lenha. Então, opto com frieza pela maciez da palavra: distração. Sendo lazer, nada mais digno do que garantir ao moço o mérito honroso de parque-de-diversões. Talvez seja difícil lhe garantir a autencidade do apelido, já que vigoram tantos parques. Mas, na minha memória eu guardo a lembrança dele com este zelo, sem o menor afeto.
Quanto ao coração, é melhor não escarafunchar, pois não existe razão linguística no sentimento. Largo este oceano de sensações e o que encontro é um presente incessante e um passado-fotografia em microflashes. Viver é este eterno devir de altos-e-baixos. Este vai-e-vem de novidades arcaicas. Sem sombra de dúvidas, a verdade que fica é esta transitoriedade típica. Com intimidade e o devido respeito a essa larga aventura em terra firme, a imagem que fica pra outros planos é da vida sumariamente explicada pela sutileza mecânica de uma roda-gigante; uma brincadeira de roda.

sábado, 11 de abril de 2009

Fragmentos da vida cotidiana

Das Perguntas

Perguntei: há quantos anda tudo isso? A sua resposta foi um soslaio faceiro, indecoroso, daqueles que desnudam a gente sem pedir licença. Inclinei o rosto, abaixei o sorriso e continuei andando sem destino, porque meu caminho sou eu mesma quem traço.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Castelos de areia

Quando dei por mim, eras!
Passam os anos,
Restam as fotos e os sonhos.

Do tempo perdido, saudades e negativos.
Do tempo vindouro, unhas roídas e reticências.

À beira-mar do presente,
Cais de encontro às despedidas.
Num universo de areia,
Escassos são os castelos
Que ficam erigidos por muito tempo.
Pois é na sutileza insurgida do vento,
Que a gente brinca de começar tudo de novo:
Em silêncio.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Descortinando

Volta-se a estaca zero. Dos sonhos perdidos, sequer as saudades. No presente o que apetece é este desconhecido momento que pulsa e não cessa. As ondas do vento embaraçam os cabelos; os passos tidos como certos dão nós e descansam latejantes. O cheiro anuncia que há de ter qualquer novidade diante dos meus olhos, que por hora desconheço. Quem se importa? Sigo em frente, avante, sem direção e sem nostalgia. Desdobro o que sinto, engomo o que tenho sido e guardo na memória apenas o que é relevante. Na seleção do que penso, me pego envolvida em um pensamento confuso, perco a oportunidade de apreciar a riqueza do agora. Abro mão distraída do momento presente, do perfume presente, das pessoas presentes para navegar em águas turvas. Bem mais sábias na sua materialidade ontológica, as cortinas dançam na sinfonia orgânica da chuva, tontas e desbaratinadas. Jogam-se no momento e não param pra pensar: será que ou será que não ? Sento, respiro e observo o rio que corre em mim, não sei em qual água navego, não sei a profundidade, tudo que sei é que o futuro não me pertence e que não existe nenhum porto seguro às margens do meu cais.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A-mar(é) cheia

Beirasse a brisa outros mares,
Quem sabe teria novas bocas,
Outras pistas de outras rotas.
Mas vento de praia que é de quintal
Não sai perambulando a ver navios,
Na inocência desprovida de frotas.

Brisa leve,
Embora
Traga muitas coisas,
Sem preparo e sem recheio,
No intuito de acontecer qualquer coisa insurgida,
O que fica na mente é o retrato:
Que a vida com pressa, não deixa endereço
De qual casa ela mora e de que muro ela é feita.

Devagar, na caverna de ser qualquer ente,
Descubro-me além de mim, além das rochas.
Porque a lua quando enche, é maré cheia.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Embora

Me abri por inteiro há poucos
e agora ele parte.
Deixa comigo a memória do seu cheiro
e uma saudade infinita roçando à porta.

Mesmo que tarde em decidir
Se a confissão é linda ou se é triste,
O que eu sinto já prescinde
Dos seus votos de boa viagem,
Porque já embarquei nessa faz tempo!

Bato a porta e fecho os olhos,
É sempre assim.
Toda vez que parte,
Deixa na minha casa o abrigo
Desta dor de não saber
Qual será a próxima vez.

Olho pro seu rosto, sorrio e relembro
Que outrora fizera desejo valer sobre respeito.
Foi bom, mas não durou muito tempo,
Porque fez do que eu sinto uma ânsia passional
De lhe querer, apenas, cá dentro de mim.


29/06/2006

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Daquelas paisagens que cegam os olhos e fazem escorrer lágrimas.
Fecho os olhos para desembaçar as vistas turvas e na fração de um segundo, outra paisagem.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Partida

Prepare a mesa, ponha o café no fogo, porque a aurora já clareou faz tempo. Sem essa de fingir surpresa, reprimir desejos ou camuflar os sentidos, porque o que é estampa, meu bem, não se esconde por trás de cortina alguma.
Desamarra a cara, solta o sorriso, amarre o nó da gravata e penteia o cabelo. Na avenida dos meus anseios, seu carro já seguiu viagem.
Estou à deriva, sozinha, sem fundo e sem poço, então não se atraque em mim! Não sou porto seguro para suas rimas.
Antes da partida, por gentileza, deixe a xícara posta e a porta aberta. Leve seu cheiro e seus cigarros, que eu vou navegar em outros mares com esta saudade cinza.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

...

Amanheceu a saudade. Pôs o vestido de sempre, enrolou os cabelos, desenhou a máscara e partiu pra mais um dia de memórias.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Verbívora

Viajar nas palavras sem destino algum, seguir a estrada dos pensamentos fugazes, temperá-los com as incertezas do amanhã, regá-los com as reticências do agora. Navegar as curvas de um corpo lascivo sem cais nem porto.
Remar no brilho inocente do olhar de uma criança; pedalar nas dúvidas, acelerar os sorrisos, frear a tristeza.
Ultrapassar as barreiras, saber que cada coisa é o que está sendo, ainda que umas não tenham nome e outras não tenham cor.
Contemplar sem palavras, refletir sem arrependimento, rir de saudades.
Fazer do céu um teto, desenhar com as estrelas, conversar com a lua.
O resto é substantivo abstrato.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ouvi dizer poesia
Recriando versos
Universos de vozes
Veladas, vazias.
Comprando abraços com letras,
Sussurrando a ouvidos estranhos –
Outrora fantasmas do desconhecido.

Eis, infinito traçado,
Letrado e composto
Por poetas fatigados.

Ouvi girar a roda
Gritando gestos ecóicos
Na displicência heróica
De fazer momentos-retratos.


Ouvi dizer que o fim é começo
Ou apreço,
Pra viver na cadência
Do minuto e do momento
Nascente,
Corrente,
Passado.

20/06/2008

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Sinfônica

1° Movimento

Meu coração, não sei mais aonde,
Não sei mais por que,
Bate.

Censuro os pensamentos
Podo o que sinto,
Mas não tardo em contradizer
Um mar inteiro.


2° Movimento

Não minto, só espero!
Desespero não nego, mas não assumo.
Durante a orgia de idéias,
Parto sem princípio e sem fim
Pra um paraíso de ilusões gastas.


3° Movimento


Sem receio das despedidas,
Demarco encontros e fronteiras.
Desprovida de armas e escudo,
Disparo contra mim mesma.

Dou margem ao sofrimento,
E bandeira pra dor.
Descanso na proa, de pé, sozinha,
Porque do outro, só resta o retrato.


4° Movimento

Sem delongas a mais,
Preparo a ilusão de um novo começo.
Limpo as digitais das carícias,
Sufoco o beijo perdido,
Engendro a primeira nos sapatos
E vou em frente.

A maré alta anuncia lua cheia,
Respiro a brisa salina do mar,
Sacudo os lençóis de areia
E saio à procura de um novo endereço pras minhas saudades.