Deu a entender que era tudo verdade. Os braços redentores anunciavam contato íntimo e prosa inexaurível. Os olhos me encaravam com uma autoridade tamanha, com uma veracidade tão límpida, que eu me envergonhava da dúvida que surgia no meu âmago. Por um segundo acreditei nas palavras, no olhar perverso, nas carícias estonteantes. Num segundo dentro dele, esqueci que estava por fora de mim mesma. Hoje eu chamo este momento de entrega efêmera de: distração. O que mais poderia ser, afinal ? Se disser amor é porque perdi totalmente a noção, se eu chamar de paixão, é uma hipérbole larga demais pra tão pouca lenha. Então, opto com frieza pela maciez da palavra: distração. Sendo lazer, nada mais digno do que garantir ao moço o mérito honroso de parque-de-diversões. Talvez seja difícil lhe garantir a autencidade do apelido, já que vigoram tantos parques. Mas, na minha memória eu guardo a lembrança dele com este zelo, sem o menor afeto.
Quanto ao coração, é melhor não escarafunchar, pois não existe razão linguística no sentimento. Largo este oceano de sensações e o que encontro é um presente incessante e um passado-fotografia em microflashes. Viver é este eterno devir de altos-e-baixos. Este vai-e-vem de novidades arcaicas. Sem sombra de dúvidas, a verdade que fica é esta transitoriedade típica. Com intimidade e o devido respeito a essa larga aventura em terra firme, a imagem que fica pra outros planos é da vida sumariamente explicada pela sutileza mecânica de uma roda-gigante; uma brincadeira de roda.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Brincadeira de roda
Postado por Elaine C. às 17:37
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