sábado, 9 de agosto de 2014

Líbera

Enjaulado dos seus sonhos de céu, na cela dos seus pensamentos de asa. Fatigado pelo cárcere sem chave, sem porta. Desanuviado das ilusões mitigadas por água, implora por novos ares. Saberá o carcereiro que seu pedido de liberdade é o prenúncio da perda? Ao pássaro, peça-lhe liberdade que ele te ensinará a voar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Caudaloso

Você me traz a memória de um sonho bom, dos quais me recordo sorrindo e fechando os olhos. A cheia luz da lua clareia todo meu desejo de estar em ti, debruçada, acalentada e resumida. Paro e penso como poderia sido, como tem sido e como será. Sonho com teus olhos e perco o presente do meu olhar. Agora. Agora, grita minha consciência! Visão clara: vã espera, mente vaga. Aqui, no meu quarto, quatro paredes e duas vidas. Uma mesa, uma cama, muita memória. Ateei fogo nas cartas para ter certeza que o passado não compensa. Ficou tudo cinza. Tudo retornou ao pó. E o que é a areia senão o pó para erigirmos a solidez de nossas casas vagas? Tudo cinza, tudo em pó, te esperando pra firmar a areia no meu coração deserto. Tenho medo, recorro aos astros, as prosas, aos versos. Tanta água, tanta areia, tanta sede. A vida passa caudalosamente, mas a gente sempre se afunda nas mesmas dúvidas. Meu amor, todo meu, e isso de não dividi-lo ainda me dará gastrite.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sonho

A memória morre quando não há o que sentir e o sentimento morre quando não há o que lembrar.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Bússola

Sentir tudo, ao passo que nada te sensibilize tanto e te desmonte. Acomodar-se aos ventos fortes e repousar nas águas revoltas do nosso oceano de emoções. Prepara teu barco e teu remo, defina aonde você quer chegar, independente de qualquer coisa ou de coisa nenhuma. É preciso mergulhar fundo pra encontrar pérolas. Supera-se o medo do desconhecido, conhecendo-o de perto, assim, de repente.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Azul

Em um dia azul
Qualquer coisa brilha
E é o sol
Que manda-chuva
Para o raio
Que o parta

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Dez horas a mais

Antes de tudo, nada certo. Me arrumo, organizo minha vida e meus sapatos, levanto o pé do chão - sem deslanchar o vôo - e sigo em frente. Deixo cá dentro as saudades, os momentos vividos, as horas corridas; sem mágoas. Vou curtindo o caminho, sem pressa, porque ainda tenho o verão inteiro pela frente. Dez horas a mais de vida no relógio dos meus dias baianos, surpresas incertas, diversão garantida. Viajar é viver, definitivamente.

sábado, 17 de outubro de 2009

Incenso

O perfume que exala de ti flui como incenso, leve, perambulando no ar das minhas dúvidas. Enovela meu olfato, entrelaça os aromas das minhas idéias. Dança em um ritmo não orquestrado, confuso, caótico. Teu olhar perturba-me os sentidos e as pernas, invade sorrateiramente meus lábios e emudece minha voz. Sei do seu percurso, não questiono, nem argumento, preparo pra mim mesma um palco dotado de silêncio, fecho a porta e está tudo bem cá dentro.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nós vivemos na ilusão
e na aparência das coisas.
Existe uma realidade.
Nós somos esta realidade.
Quando você compreender isto,
verá que você não é nada.
E não sendo nada,
você é tudo.
É só isso


- Kalu Rinpoche

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sinfonia do Nada

Não precisa ter hora pra começar
Porque o começo nada mais é que um antigo-pulsar
Que se prolonga sempre em meio ao presente
Fruto da árvore de outrora.

O começo não vem com o parto,
Nem com a partida;
Vem antes de qualquer discurso,
De qualquer palavra,
Despedida.

O não-dito vem antes da sinfonia,
De qualquer zunido tardio;
Somos um com o todo,
Com o nada.

Abraçada ao infinito, de portas abertas
Ao desconhecido,
Sou bem maior que o pensamento.

Fecham-se as cortinas,
Mas o espetáculo não se encerra
Porque não tem fim este delírio interstício do ser e do nada,
Porque o que orquestra em mim e em ti é a velha sinfonia do nada.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sinfonia do Nada

O começo não vem com o parto,
Nem com a partida;
Vem antes de qualquer discurso,
De qualquer palavra,
Despedida.